Mito ou verdade: o sangue pode ser usado para recarregar baterias?

Imagine circular pelas ruas da cidade dirigindo um carro movido a sangue. Ou então, tente visualizar um smartphone cuja bateria possa ser recarregada com suor. As ideias podem parecer improváveis ou meros relatos de obras de ficção, mas acredite: caso uma teoria em estudo no Japão e nos EUA seja confirmada, poderemos ter no futuro baterias humanas.
A proposta é bastante curiosa e já havia sido explorada, de maneira cômica e trash, no cinema com o filme “Carro a Sangue”. Entretanto, o grupo de pesquisa que lidera o projeto estima ter em mãos uma teoria consistente que comprova essa possibilidade. Logicamente, não estamos falando de ligar uma sonda nas veias para extrair sangue e alimentar um motor. A proposta é bem mais sutil do que pode parecer.

O sangue humano tem poder

Os trabalhos que levam a essa possibilidade estão centralizados em dois grupos de pesquisa. O primeiro deles é o Panasonic’s Nanotechnology Research Laboratory, no Japão, e o segundo é o Rensselaer Polytechnic Institute, localizado nos EUA. Ambos têm teorias similares sobre a utilização do sangue como fonte de energia, porém divergentes em alguns pontos técnicos.
A proposta do grupo japonês é retirar eletricidade da glicose do sangue, gerando uma energia de até 100 W. Mas como isso seria possível? A explicação ainda está apenas no campo teórico, mas a ideia é conseguir com que um dispositivo imite o funcionamento do corpo humano.
Um dos elementos que podem ser encontrados no sangue humano é a glicose. Quando em contato com a célula, a substância passa por um processo de respiração celular. O resultado disso é a geração de moléculas de ATP (trifosfato de adenosina), responsáveis por armazenar energia. Essa energia pode ser mensurada em watts, ou seja, transformada numa medida utilizada nos gadgets do dia a dia.
Como o corpo humano está em constante movimento, não é possível retirar energia do organismo para alimentar baterias externas sem que isso resulte em problemas de saúde a quem se submete à experiência. Contudo, os cientistas trabalham no desenvolvimento de bionanobaterias, dispositivos portáteis que auxiliariam nesse processo e permitiriam que alguns aparelhos pudessem ser recarregados junto ao corpo.
“É como o metabolismo do alimento. O corpo humano pode processar a glicose e obter energia. Quando ela é oxidada, os elétrons podem ser retirados”, explica Kazuo Eda, coordenador do trabalho. Em outras palavras, é como se a bateria fosse movida a açúcar, mas tivesse um funcionamento similar ao do corpo humano.

Fina e flexível como uma folha de papel

(Fonte da imagem: Rensselaer/Victor Pushparaj)
A teoria desenvolvida pelo grupo norte-americano segue basicamente a mesma linha de raciocínio. Em vez de utilizar os íons de lítio que compõem uma bateria AA, a proposta é lançar mão de um dispositivo flexível e fino, como uma folha de papel, e que pode ser recarregado com sangue ou suor.
O projeto do Rensselaer Polytechnic Institute foi apresentado ao mundo pela primeira vez em 2007, na edição de 13 de agosto da Proceedings of the National Academy of Sciences. A biobateria, que funciona com fluidos corpóreos, pode ser movida até mesmo a lágrimas ou urina.
A nova bateria é 90% feita de celulose, mesmo polímero que compõe o papel. Os outros 10% são feitos de nanotubos de carbono alinhados, o que garante ao dispositivo a cor preta e a capacidade condutora. O resultado de tudo isso é uma bateria ideal para utilização em aplicações médicas.
Para que utilize a energia dentro do corpo humano, a bateria, também chamada de papel nanocomposto, precisa ser ingerida. Já para utilizações fora do corpo humano, os cientistas encharcam o papel com fluído iônico, uma espécie de sal em forma líquida, proporcionando assim os eletrólitos.
Podendo fornecer energia para implantes médicos, como próteses, marca-passos e corações artificiais, a bateria pode ser aglomerada em várias folhas, se encaixando facilmente sob a pele sem causar desconforto para o usuário. Outra vantagem está nas temperaturas suportadas pelo líquido iônico: desde –73 °C até 148 °C. Com alta resistência e pouco peso, a bateria poderia ser utilizada na fabricação de automóveis e até mesmo aviões.
Apesar das teorias promissoras, ainda não há uma previsão concreta de quando tecnologias como essas poderão de fato ser colocadas em prática. Contudo, a melhor resposta para a pergunta do título deste artigo é que é verdadeira a possibilidade, ao menos em teoria, de termos o sangue humano como fonte de energia para baterias. Se a prática poderá comprovar isso, só o tempo poderá responder.

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