Ciência e religião no tratamento de dependentes de crack

São 7h e o som grave de um pequeno sino metálico ecoa na chácara de 30 mil metros quadrados da Conquista, uma comunidade terapêutica para dependentes químicos em Itapecerica da Serra, na Grande São Paulo. É do instrumento a função de alertar os 48 homens, moradores da chácara, que o momento é de acordar e, em seguida, de arrumar as camas.
A droga mais consumida por essas pessoas é o crack. Muitos deles já foram presos por terem praticado crimes com o objetivo de conseguir dinheiro para o vício. Eles passam agora por um tratamento de nove meses em uma comunidade terapêutica -espaços com foco na reinserção social e no exercício da espiritualidade. Todos estão lá voluntariamente.
Esse tipo de comunidade tornou-se a “arma” do governo de São Paulo para tentar vencer a luta contra o crack.
Muitas delas serão credenciadas para atender dependentes do programa Recomeço, lançado neste mês. Uma das frentes do projeto é a “bolsa anticrack” que dará R$ 1.350 mensais a essas instituições por paciente atendido.
A reportagem da Folha ficou “internada” entre a noite de quarta (15 de maio) e a tarde de sexta (17) na comunidade evangélica Conquista, com o consentimento da direção. O objetivo era conhecer os pacientes e o dia a dia do tratamento, marcado pelo badalar do pequeno sino metálico.
O instrumento toca ao menos oito vezes ao dia para alertar o início de cada atividade a ser realizada.
Depois do café da manhã, eles devem: recitar o mantra “só por hoje”; fazer um Inventário Moral Diário, onde falam sobre seus defeitos; almoçar; praticar laborterapia; lanchar e jantar. Duas vezes por dia, recebem medicamentos.
A depender do dia, algumas atividades são substituídas por terapia individual, em grupo e uma reunião onde praticam os “12 passos”, princípio do grupo AA (Alcoólicos Anônimos), cujas bases foram adaptados ali em uma bíblia evangélica. Também há reuniões religiosas.
Os horários rígidos têm razão de ser: ensiná-los a viver em um mundo de regras, muitas delas esquecidas durante o consumo da droga. Ali, eles são chamados de “alunos”.
O descumprimento das normas pode custar a ligação semanal para a casa ou a visita quinzenal da família.
Muitos, no entanto, não se adaptam ao novo mundo. Dos 48 que estão ali, só 24 devem completar os nove meses do tratamento, estima a direção.
Desses, seis devem voltar a consumir drogas em um prazo de um ano.

Fonte: Folha de São Paulo
Cotidiano/Talita Bedinelli
Foto: Apu Gomes

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